quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Julia Hill, a mulher que ficou dois anos em cima de uma árvore para evitar o seu corte

"Todos os problemas que o nosso mundo encara – desde devastamento e aquecimento global, extinção das espécies e poluição, proliferação nuclear e guerra, pobreza e racismo, e assim por diante -  são sintomas de uma doença muito mais profunda: a doença da consciência desconetada. Eu chamo esta doença de “Síndrome da Separação“. Quando uma planta é arrancada das suas raízes pelas quais é conectada, ela começa a morrer. Comparando com o ser humano, o processo é semelhante: se tirarmos de nós, as raízes que nos conectam com nossa consciência, a saúde, vitalidade e beleza de nossas vidas, comunidades e o mundo em geral, também começam a desmoronar." - Júlia Hill


Julia Butterfly Hill despertou atenção internacional para a situação de alarme em que se encontram as florestas que escaparam da depravação. Ela morou mais de dois anos nos troncos de uma Sequoia (Redwood) – considerada a árvore mais alta do planeta – de onde se recusou a descer. A sua história de protesto contra a destruição do meio ambiente e a desvastação das  Sequoias terminou depois de 738 dias, com um acordo que incluía a permanente protecção para a árvore conhecida como LUNA e 3 acres em redor da mesma.

Julia tornou-se numa ativista, escritora e poetisa. Ela é autora do Best Seller "O legado de Luna" (que este ano dará um filme) e de "Uma pessoa faz a diferença", ambos publicados em 100% de papel reciclado com tinta de soja e sem o processamento de cloro, num alto padrão de sustentabilidade ecológica. .

Julia fundou a organizaçao Circle of Life (Círculo da Vida) (www.circleoflife.org)  - para promover a preservaçao da vida. Ela também está envolvida no Nós o Planeta (We the Planet) (www.wetheplanet.org) , um projeto relacionado ao Círculo da Vida. A sua coragem, convicção e clareza de mensagem de esperança, incentivo, amor e respeito por todo tipo de vida, tem inspirado pessoas no mundo inteiro. Como neste testemunho, cuja tradução segue abaixo:

Uma das coisas que digo às pessoas é que somos tão bons em definirmos no que estamos contra que o que nós somos contra acaba por nos definir. Nós temos o movimento "anti-guerra" e quando eu os ouço, as vozes das pessoas e o tom das suas vozes, parece que estão em guerra. As pessoas ficam apanhadas, zangadas. No activismo florestal há alturas em que temos de decidir quais as acções mais apropriadas e logo as pessoas começam a discordar e a começarem a lutar uns contra os outros e ouço as suas vozes alteradas, que eu me pergunto: "Como podemos parar as cortes de árvores das florestas se entre nós nos cortamos uns aos outros." E foi uns dos momentos de inspiração que me fez raciocinar que ok, devemos apontar o que está errado, mas é mais importante defender o que achamos correcto. Porque defendo o que achamos correcto fazemos com que o mundo se desloque nessa direcção, nós manifestamos aquilo que nos focamos. Então se nos focarmos no que está errado, não devemos ficar surpreendidos em ter mais do mesmo. Isso não significa fechar os olhos e pretender que coisas como a devastação do planeta não está a acontecer, que a injustiça contra as pessoas não está a acontecer. Mas mais do que abrir os nossos olhos ao que está mal, defendermos e co-criarmos o que achamos correcto, de forma que a energia vá para aquilo que está correcto.

Bem, quando eu estava na árvore, tentei ser amiga das pessoas dos empregados e responsáveis da empresa  (Pacific Lumber Comunity), fiz o meu melhor para nunca criar a sua animosidade, para nunca criar um inimigo, porque se criarmos um inimigo vamos ter um, mas se eu escolher não criar um inimigo, mesmo se alguém me vir como um inimigo, isso não quer dizer que eu tenho de jogar o seu jogo chamado de guerra. Mas se o continuar a ver como um ser humano, continuar a apelar para a sua humanidade, mesmo que ele tente acorrentar-me a símbolos, um rótulo como amante de árvores, extremista, radical, esquisita, etc, a uma caixa em que nos querem meter. E refusando ser metida na caixa, pedir a essas pessoas que por favor sejam humanas, que encontrem o que é melhor para todos, em vez do que somos diferentes.

Um ano depois de ter descida do árvore Luna, houve alguém que atacou com montes de raiva e medo que atacou Luna e tentou serrá-la, por aquilo que ela representava. Mas o que é extraordinário é que a equipa que veio tentar curar Luna, incluiu empregados da companhia Pacific Lumber que vieram, depois da hora, para colocar o metal que sustenta os curativos da árvore. E uma das coisas que eles me disseram foi "Júlia, nós não concordamos com o que fizestes, mas honramos o que fizestes porque o fizestes duma maneira honrosa, e a pessoas que fez isto fê-lo duma maneira desonesta, por isso é importante ajudarmos porque a maneira como nos tratastes, mesmo se nós não concordávamos contigo politicamente, mesmo que não concordassemos com o que tu defendes, a maneira como tu te aproximastes de nós, temos de honrar isso."
Isso foi muito profundo e ainda me toca desde esse dia, que Luna ainda se mantem de pé, linda e pujante, porque um conjunto de pessoas, engenheiros de estruturas, biólogos, curadores de árvores, nativos americanos,  e empregados do "Pacific Lumbar", todos juntos para criar a comunidade de cura de Luna que permite que ela ainda esteja ali de pé pujante.

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